O drama do abandono na era do ghosting em "Copo Vazio"
- Brenda Destro

- 17 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Copo Vazio, de Natalia Timerman, é um romance que trata de uma dor antiga com um olhar totalmente contemporâneo.
A protagonista, Mirela, é uma mulher inteligente, bem-sucedida, com uma vida aparentemente completa. Mas quando Pedro, por quem ela se apaixona, desaparece de repente, sem dar nenhuma explicação, sua vida vira de cabeça para baixo.
O fenômeno moderno do ghosting ganha aqui uma profundidade emocional impressionante, mostrando como a ausência de respostas pode desestabilizar alguém.

É interessante como a autora conecta o drama de Mirela a uma tradição literária de mulheres abandonadas, a sensação de impotência e desespero diante do sumiço do outro é quase atemporal. O que o livro traz de novo, porém, é esse olhar atual, onde redes sociais e dinâmicas das grandes cidades intensificam a solidão e a sensação de vazio. Mesmo rodeada por trabalho, amigos e família, Mirela é consumida pela obsessão, não apenas por Pedro, mas pela versão de si mesma que ela sentiu emergir durante o relacionamento.
Embora eu, pessoalmente, não me identifique com essa experiência, já que não faz sentido para mim insistir em quem não se importa, o livro me fez pensar sobre como é comum esse sentimento de perda e como a falta de respostas pode realmente afetar o psicológico de alguém. Natalia faz um mergulho nas emoções da protagonista, explorando a vulnerabilidade sem rodeios, em um trecho muito interessante, ela até chama essas "lembranças petrificadas"que se vão antes mesmo de acontecerem de "saudade abortada".
Para quem já viveu uma situação de ghosting ou está interessado em entender melhor essa dinâmica tão comum atualmente, Copo Vazio é uma leitura que vale a pena. Mesmo que o abandono pareça ser um tema de outros tempos, o livro consegue ser extremamente atual e relevante.
Veja abaixo as frases de destaque:
"Se sou alguém a quem se pode amar, por que Pedro não está aqui?" (p.43)
"Uma tristeza acho que mais calma, mas sempre lá, mesmo no trabalho, conversando de outra coisa, a tristeza sempre de prontidão." (p.76)
"[...] o medo de sentir já é sentir [...]" (p.136)






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