A Redoma de Vidro: o mergulho na mente de uma mulher em colapso
- Brenda Destro

- 4 de jul.
- 4 min de leitura
Atenção: o livro aborda temas sensíveis como depressão, crise existencial e suicídio. Este texto também trata dessas questões. Leia com cautela e cuide da sua saúde emocional. :)

Acho que demorei um pouco mais do que deveria para ler A Redoma de Vidro, talvez porque o livro me tocou muito mais do que eu esperava. Era uma leitura que eu queria fazer há muito tempo — até já tinha o e-book no Kindle — mas sentia que precisava ler a versão física. Tinha a impressão de que era um livro para ser tocado, sentido, marcado... sabe?
Enfim, o texto não é sobre mim. Vamos ao livro!
Publicado em 1963 sob o pseudônimo de Victoria Lucas, A Redoma de Vidro é um romance semi-autobiográfico de Sylvia Plath. Um dado triste é que a obra foi publicada menos de um mês antes do suicídio da autora.
A narrativa segue um estilo não linear e em fluxo de consciência, com diversos flashbacks ao longo da história. Esse tipo de escrita pode causar certa estranheza para quem não está acostumado, mas eu, particularmente, gosto bastante, então fluiu bem para mim.
O livro pode ser dividido em duas partes. Preciso confessar que a primeira não me prendeu tanto. Eu lia porque queria conhecer a história, ela cativa, sim, mas não me fisgou de imediato. Essa parte acompanha a protagonista Esther Greenwood (e, de certa forma, a própria Sylvia), que ganha uma oportunidade de estagiar em Nova York. Esther se cobra muito nos estudos e, por isso, tem quase nenhuma vida social — algo reforçado pela postura da mãe, que é professora e também exerce uma pressão constante.
Naquela época, a pressão sobre as mulheres era ainda mais intensa do que hoje. Além das cobranças internas, Esther se sentia insuficiente ao se comparar com os homens, especialmente com o irmão — ela frequentemente mencionava que ele sabia alemão, enquanto ela se questionava se aquele realmente era o caminho que desejava seguir. É nesse momento que ela começa a se sentir perdida.
Ela também passa a refletir sobre o futuro, sobre o casamento… e aí entra a famosa metáfora da Figueira, que você provavelmente já ouviu falar. (Inclusive, eu tenho um vídeo no Instagram falando bem rapidinho sobre ela)
Quanto mais a realidade se impunha, mais ela despertava para o papel da mulher na sociedade. A escrita surge como uma forma de fugir do destino de viver apenas para o lar. A narrativa vai nos conduzindo pelas percepções de Esther, que vai “caindo na real”... até que tudo desaba.
Ela entra em crise: não consegue dormir, nem ler, por dias. Acaba sendo encaminhada a um psiquiatra, que recomenda o tratamento com eletrochoques, uma prática comum na época, o que, sinceramente, me deixa profundamente horrorizada. O procedimento era usado para tratar depressões severas, mas era (e ainda é) altamente controverso, principalmente porque era aplicado sem anestesia, de maneira agressiva e, muitas vezes, como instrumento de controle social, especialmente sobre mulheres, rs. Tem um trecho em que precisei parar a leitura porque fiquei extremamente sensível.

O título A Redoma de Vidro é uma metáfora para a depressão. A redoma representa essa sensação de estar isolada do mundo, sufocada em um ambiente transparente, mas inalcançável.
Em certo ponto, ela é transferida para outro hospital e começa a apresentar alguma melhora. Se aproxima de uma colega antiga, e, justo quando a relação entre as duas começa a florescer, acontece algo com essa amiga. O final é aberto — o que me deixou um pouco frustrada — mas, considerando os desdobramentos da vida da própria Sylvia, dá pra entender e até relevar.
Bom, vou encerrar por aqui, porque sinto que estou prestes a dar spoilers demais. Para concluir: gostei muito do livro. É uma obra sensível, que me deixou genuinamente triste em diversos momentos. Não é uma leitura confortável. Demorei a me conectar com a primeira parte, mas, conforme a segunda avançava e os sentimentos da Esther ficavam mais evidentes, fui me envolvendo cada vez mais. Só parava de ler porque a intensidade emocional pesava.
A Redoma de Vidro é um livro que te vira do avesso e deixa marcas. Não recomendo para quem esteja num momento sensível, pois pode ser gatilho. Mas, se você está bem com o tema, a leitura vale muito a pena.
Agora, vamos aos trechos do livro que mais me impactaram:
"Era como se o que eu quisesse matar não estivesse naquela pele ou no leve pulsar azul sob o meu dedão, mas em outro lugar mais profundo e secreto, bem mais difícil de alcançar" p.165
"Não teria feito a menor diferença se ela tivesse me dado uma passagem para a Europa ou um cruzeiro ao redor do mundo, porque onde quer que eu estivesse — fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc —, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado" p.208
"O ar da redoma de vidro me comprimia, e eu não conseguia me mover" p.209
"Respirei fundo e ouvi a batida presunçosa do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou" p.273 <3
E por último, mas não menos importante: uma playlist com músicas que me vieram na cabeça enquanto eu lia o livro. Clique aqui.






Comentários